No alto do Pico das Cabras, no distrito de Joaquim Egídio, há um lugar onde a cidade aprendeu a ler e a se maravilhar com o silêncio do firmamento. Inaugurado em 15 de janeiro de 1977 como Estação Astronômica de Campinas e ostentando atualmente o nome de Observatório Municipal Jean Nicolini, o equipamento ganhou, ao longo do tempo, ares de patrimônio afetivo: foi o primeiro observatório municipal do Brasil e um dos pioneiros nacionais em programação educativa contínua — um espaço onde a ciência e a curiosidade pública se cruzam todas as semanas.
A história do Observatório está intimamente relacionada ao nome de Jean Nicolini (1922-1991), um entusiasta autodidata da astronomia que, por décadas, se dedicou a registrar o Sol e outros fenômenos. Ele chegou a colaborar, ainda nos anos 1960, com observações lunares relacionadas ao programa Apollo. Em 1948, fundou o Observatório do Capricórnio, um núcleo civil que depois viria a atuar junto ao espaço municipal. Em 1992, a Estação Astronômica recebeu oficialmente o nome de Jean Nicolini, em homenagem à sua importante contribuição para a divulgação científica no país.
Programações especiais
Hoje, o Observatório funciona como um equipamento da Prefeitura de Campinas voltado tanto à pesquisa amadora quanto à educação e ao turismo rural, recebendo visitas públicas regulares para noites de observação, atividades temáticas e eventos especiais, assim como agendamentos escolares — papel que se consolidou ao longo das décadas, tornando-o um importante elo entre o público e a astronomia.
Além disso, o espaço recebe programações especiais para observações da Lua, de planetas visíveis, de eventos celestes e ações de divulgação científica, como contação de histórias, oficinas e palestras. Normalmente, há atividades públicas aos finais de semana e algumas noites temáticas; porém, é preciso acompanhar a programação divulgada pela Prefeitura de Campinas e pelos canais oficiais do Observatório. Para grupos escolares, é imprescindível o agendamento prévio para visitas monitoradas.
Astroturismo
A Secretaria de Cultura e Turismo segue responsável pela gestão do Observatório, com a proposta de fomentar o astroturismo, promovendo a ciência de forma mais interativa e turística. Segundo o diretor de Turismo de Campinas, Eros Vizel, o desafio é ampliar e renovar a região mediante parcerias: “A ideia é revitalizar toda aquela região, que tem um alto potencial turístico.
Para os apaixonados pelo céu e pela ciência, o Observatório Jean Nicolini oferece não apenas uma visita, mas uma verdadeira viagem pelo cosmos sem sair do município. Ele, junto com o Museu Aberto de Astronomia, que fica no Pico das Cabras, fortalece Campinas como um polo singular para o astroturismo”, reforça.
Referência na região
O geógrafo e técnico em astronomia Fellipe Whonrath, que atua no Observatório desde 2022, conta que sempre foi fascinado pela natureza do planeta, desenvolvendo grande curiosidade científica e astronômica. Ele foi convidado pelo astrônomo Júlio Lobo, figura que marcou profundamente a história do local, ao de se dedicar a ele por 47 anos, desde que tinha 17 anos— ou seja, desde a inauguração. Júlio, sabendo de seu interesse, convidou-o para atuar no Observatório, de onde não saiu mais. “O Observatório é referência em toda a região de Campinas, sendo um espaço vital para o fomento da curiosidade científica”, reforça Fellipe.
Para ele, o maior desafio agora é obter investimentos para a aquisição de novos equipamentos e manutenção dos existentes. “Alguns deles são muito antigos e delicados, requerendo manutenção especializada; outros já estão fora de operação. Na verdade, todo o Observatório demanda renovação e ampliação de seu acervo e infraestrutura.
Quanto à gestão, o Observatório é juridicamente um equipamento público municipal relacionado às ações de Cultura e Turismo e mantido pela Prefeitura de Campinas. Na prática, muitas atividades são realizadas em parceria com o Observatório do Capricórnio (entidade civil criada por Jean Nicolini) e com equipes de astrônomos amadores e profissionais convidados para conduzir sessões e projetos educativos.
Democracia científica
Mais do que um conjunto de cúpulas e lentes, o Observatório é um dispositivo de democracia científica, uma vez que tornou possível, desde os anos 1970, que estudantes e moradores de Campinas tivessem contato direto com equipamentos e métodos da astronomia. A escolha pela área rural e a aposta em atividades regulares fizeram dele uma referência no interior paulista e um símbolo de como as prefeituras podem investir em ciência pública.