O Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo inaugurou neste sábado (8) a exposição “Di Cavalcanti: Militante, Boêmio e Brasileiro”, uma ampla retrospectiva que revisita as múltiplas facetas do pintor modernista, conhecido por sua participação na Semana de Arte Moderna de 1922 e por retratar figuras femininas e afro-brasileiras. A mostra tem entrada gratuita e segue em cartaz até outubro de 2026.
Com curadoria da professora Helouise Costa e do jornalista Marcelo Bortoloti, a exposição reúne 115 desenhos originais de um acervo de 561 obras do artista, todas doadas por ele próprio ao antigo Museu de Arte Moderna de São Paulo, na década de 1950. As demais peças da coleção serão apresentadas ao público em uma projeção audiovisual, que complementa a narrativa visual da mostra.
Seis décadas de arte e transformação
Organizada em seis módulos, a exposição acompanha as diferentes fases da carreira de Emiliano Di Cavalcanti (1897–1976). Cada núcleo representa uma década de sua produção e explora temas que marcaram sua trajetória, como a vida boêmia em Paris, o engajamento político e a busca pela identidade brasileira.
“Essas divisões permitem compreender como o artista se reinventou ao longo dos anos, refletindo tanto as transformações pessoais quanto as mudanças no país e na arte moderna”, explica Helouise Costa. A curadora destaca que a releitura da obra sob a ótica biográfica ajuda a revelar aspectos pouco explorados da vida do pintor.
O primeiro módulo leva o visitante a Paris dos anos 1920, onde Di Cavalcanti viveu intensamente a cultura noturna, os cafés e os prostíbulos que inspiraram parte de sua obra. Na capital francesa, o artista também absorveu influências do cubismo e das vanguardas europeias, especialmente de Georges Braque. “O diálogo entre o Brasil e a França está presente em quase toda a sua produção”, observa Bortoloti.
Outro destaque da mostra é o núcleo dedicado às representações afro-brasileiras, que hoje suscitam debate sobre estereótipos e visões ultrapassadas. Segundo Costa, embora Di Cavalcanti tenha buscado valorizar a diversidade do país em tempos de ideologias raciais excludentes, parte de suas imagens “envelheceu mal”, reproduzindo visões romantizadas e hierárquicas.
O tratamento dado às figuras femininas também é questionado. “Ele frequentemente colocava a mulher como objeto do olhar masculino”, diz a curadora. Para ampliar o debate, o MAC exibe fotografias de mulheres que posaram para o artista, feitas por Walter Firmo, acompanhadas de depoimentos e registros de pagamentos. “Dar nome e rosto a essas modelos é um gesto de reconhecimento e reparação simbólica”, acrescenta Costa.