A Câmara de Campinas aprovou, por 29 votos a 1, a abertura de Comissão Processante para apurar quebra de decoro parlamentar por parte do vereador Otto Alejandro (PL), acusado de agressões e violência doméstica. A decisão ocorre após o boletim de ocorrência registrado pela namorada e a divulgação de novos vídeos que mostram o parlamentar em episódios de violência — entre eles, uma discussão que terminou com um ônibus apedrejado (e o celular do motorista quebrado); um ataque contra a porteira de um prédio e, mais recentemente, um confronto envolvendo a Guarda Municipal. O processo de investigação que foi instaurado pode levar à cassação do mandato do vereador.
A namorada de Otto registrou B.O. na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) na última segunda-feira (10). No depoimento prestado à polícia, a namorada disse que o vereador a atacou com xingamentos, ameaças, e disse: “vou acabar te matando”. Relatou ainda ter sido agredida fisicamente, comportamento que, segundo o registro, se repete principalmente quando Otto Alejandro consome álcool. O boletim aponta que ele “faria uso frequente de bebidas alcoólicas, ficando muito alterado”.
O vereador Otto Alejandro (PL) é investigado pela Polícia Civil de São Paulo por três ocorrências que incluem violência doméstica, injúria, ameaça, dano e abuso de autoridade.
Em outro caso, registrado em março de 2025, o vereador aparece em um vídeo fazendo ameaças a guardas municipais em um estabelecimento de Campinas. “Vocês vão perder o emprego (…), vai para fora”, disse em tom de ameaça. De acordo com a assessoria da GM, os guardas confirmaram em depoimento que foram desacatados. A Prefeitura informou, em nota, que aguarda as investigações em andamento no Ministério Público e na Polícia Civil para dar continuidade ao processo interno.
Em outra ocorrência, Otto Alejandro é acusado de quebrar o vidro traseiro de um ônibus e ameaçar o motorista de morte na Avenida Aquidabã, em Campinas. Os três casos foram apresentados na 1ª Delegacia Seccional de Campinas.
Há ainda um quarto caso. Imagens internas da câmera de segurança de um prédio registraram o vereador campineiro ameaçando, ofendendo e intimidando a porteira do edifício onde vive sua namorada. O registro é de abril deste ano. A funcionária aparece visivelmente desconfortável e intimidada quando o parlamentar, que segura uma garrafa de cerveja, altera o tom de voz e inicia uma série de xingamentos, e ataques à porteira. Entre as ofensas, o vereador disse “não ganha mais que mil reais”, insinuando que ela teria um salário baixo, e afirmou, em tom ameaçador: “A hora que você pisar para fora, nós vamos conversar”. Otto ainda fala para a funcionária de “cabelo de fogo, do capeta, sapatão”.
Outro lado
O pedido da instalação da CP foi protocolado na última sexta-feira (14). Na Tribuna da Câmara, durante a reunião ordinária de segunda (17), Otto Alejandro negou a agressão e disse que a namorada retirou a queixa policial. O parlamentar também negou que tenha atirado algum objeto no ônibus. Otto Alejandro não esteve na sessão. Carmo Luiz (PSC) e Marcelo Silva (PP) foram os vereadores ausentes na sessão.
O pedido de abertura de uma CP contra o vereador não foi votado na última reunião ordinária em razão da falta de quórum. Na sessão desta quarta (19), o processo de investigação que foi instaurado pode levar à cassação de mandato do vereador.
A presidente e as mulheres
Após a aprovação, houve o sorteio para escolher os três vereadores que conduzirão o processo. A presidente será a vereadora Fernanda Souto (PSOL), o relator será Eduardo Magoga (Podemos) e Guilherme Teixeira (PL). De acordo com a regra da casa, os três sorteados decidem entre si qual deles será o presidente e o relator da comissão.
Antes da escolha, Fernanda pediu a palavra e disse: “desde já, como única mulher da Comissão, reivindico a presidência”. Mesmo com a requisição da vereadora, esta não foi a primeira alternativa na decisão dos outros sorteados. Os dois vereadores escolheram-se: Teixeira seria o presidente e Magoga, o relator. A decisão causou revolta entre as cinco vereadoras presentes e boa parte da plateia. “Lamentável, inadmissível”, disse Fernanda Souto. “É preciso que a cidade de Campinas saiba que isso é um golpe contra a cidade e contra as mulheres. Esta casa envergonha a cidade e as mulheres. Isso é golpe, não tem outro nome. Golpista, golpista!”, falou Mariana Conti (PSOL).
“Eu pediria para o vereador Guilherme, que é do meu partido, declinar e dar a presidência para a vereadora Fernanda Souto”, disse a vereadora Débora Palermo (PL).
“Senhor presidente (referindo-se ao presidente da casa, vereador Luís Rossini), eu acabei de desejar aqui que esta comissão faça um bom trabalho, dentro da lisura e da transparência, mas já começou a operação para passar pano para agressor. É um abuso, a única mulher eleita não assumir, nem a relatoria, nem a presidência”, disse Guida Calixto (PT). “A única mulher sorteada, que faz parte da Comissão da Mulher da Câmara, não pode participar nem de presidência e nem de relatoria!”, falou Paolla.
A sessão foi suspensa por dez minutos. Em seguida, Fernanda Souto voltou ao microfone: “como a única mulher desta comissão que vai debater temas, colocar luz aos fatos justamente sobre uma denúncia de agressão a mulher, eu acho que é muito importante que a comissão indique o meu nome para presidir os trabalhos. Não tenho nenhuma dúvida que todos os componentes da comissão vão conduzir os trabalhos com independência, com transparência mas, no momento que se debate tanto a necessidade das mulheres terem o protagonismo nas questões que lhe dizem respeito, e neste caso não há dúvidas sobre isso, eu reivindico novamente à presidência da Comissão Processante”.
“Tendo em vista a declaração da Fernanda Souto, que a casa precisa dar uma resposta para a sociedade, e uma fala da vereadora do meu partido, eu coloco a presidência a favor da Fernanda Souto, se assim concordar o vereador Magoga”, disse Guilherme Teixeira. “Eu quero parabenizar o vereador Guilherme Teixeira que mostrou que o PL não é um partido machista, que dá espaço para as mulheres, e deu a presidência para a vereadora Fernanda. E eu tenho certeza que esta comissão vai trabalhar com seriedade.
“Eu não vi erro na condução do sorteio. Me considero um vereador muito sério. Nunca deixei um ato meu contra as mulheres. Apenas escolhi um vereador que tenho mais afinidade. Também não tenho nenhum problema em abrir mão para ela”, disse Magoga.

Próximos passos
A presidente da Comissão iniciará os trabalhos, notificando o denunciado para apresentar no prazo de dez dias a defesa prévia por escrito. Decorrido esse prazo, a CP emitirá um parecer em cinco dias, opinando pelo prosseguimento ou arquivamento da denúncia, para então ser submetido ao Plenário.
Se a Comissão opinar pelo prosseguimento, Fernanda Souto designará o início da instrução, e determinará os atos, as diligências e as audiências que se fizerem necessárias, para o depoimento do denunciado e inquirição das testemunhas.
Os integrantes da CP terão até 90 dias para concluir o trabalho, contados a partir da notificação ao acusado. O relatório final será avaliado pela Comissão e um eventual pedido de cassação ou absolvição, apreciado em última instância pelo Plenário. Caso seja proposta a cassação, para que ela ocorra será necessário que pelo menos 2/3 dos 33 vereadores votem favoráveis.
Corregedoria
Paralelamente a Corregedoria da Casa recebeu no final da tarde desta quarta uma representação pedindo a abertura de procedimento de apuração ética e disciplinar contra Otto Alejandro. O pedido foi subscrito pelos vereadores Roberto Alves (Republicanos), Luis Yabiku (Republicanos), Paulo Haddad (PSD, Perminio Monteiro (PSB), Rodrigo Farmadi (União) e Dr. Yanko (PP).
O corregedor, vereador Carlinhos Camelô (PSB), vai analisar a viabilidade jurídica da representação para averiguar se vai dar andamento ao processo. O processo, se aceito pela Corregedoria, segue os trâmites do Código de Ética Parlamentar da Câmara.
Ao contrário da CP, que pode culminar com a cassação, a investigação da Corregedoria prevê sanções que vão desde advertência escrita e suspensão do uso da palavra durante as reuniões até a suspensão temporária do mandato por até 90 dias com prejuízo da remuneração do vereador.
