A Câmara Municipal de Campinas vota nesta quarta-feira (29), a partir das 18h, o pedido de abertura de uma Comissão Processante (CP) contra a vereadora Mariana Conti (PSOL). A solicitação de instauração foi apresentada pelo vereador Nelson Hossri (PSD), que pede a apuração de uma suposta infração político-administrativa atribuída à vereadora. A proposta tenta criminalizar o gesto de solidariedade da parlamentar, que integrou a Flotilha Global Sumud, expedição humanitária internacional composta por embarcações que transportavam alimentos e medicamentos à Faixa de Gaza, que vive uma crise humanitária catastrófica, com mais de 68 mil mortos. A Flotilha Global Sumud internacional buscou denunciar e desafiar o bloqueio imposto por Israel ao território palestino.
De acordo com Mariana Conti, não há possibilidade desta cassação ocorrer do ponto de vista jurídico, pois a licença está prevista no regimento interno. “Foi uma licença sem vencimentos e autorizada pela Câmara”, disse a parlamentar. A instauração da Comissão Processante é o primeiro passo de um processo que pode levar à cassação do mandato, caso a denúncia seja acolhida e comprovada.
A vereadora convocou um ato público em suas redes sociais em defesa de seu mandato para esta quarta-feira (29), às 17h30, na Câmara. A própria vereadora Mariana Conti e seus apoiadores têm se manifestado nas redes sociais e em atos, afirmando que o pedido de Hossri tem como objetivo final a cassação do seu mandato e que se trata de um “processo de perseguição política” por sua participação na missão humanitária. “Os vereadores de extrema-direita não se conformam de eu ser uma mulher, vereadora eleita, que tenho coragem de enfrentar os problemas mais importantes de Campinas e da humanidade”, disse Mariana Conti. A votação ocorre na primeira sessão ordinária após o término da licença da parlamentar.
“Minha expectativa é que a Comissão Processante seja aberta, com a votação soberana do plenário. A vereadora terá o direito de defesa e o contraditório garantidos. Na minha avaliação, existiu quebra de decoro por parte da vereadora, punível com cassação de mandato”, disse Nelson Hossri. De acordo com ele, é dever do parlamento abrir o processo para que tudo seja devidamente apurado, dentro da lei e com transparência. “Os fatos deverão ser apurados pela Comissão Processante, nos termos da lei. A população de Campinas não aguenta mais representantes que se distanciam dos problemas da cidade”, completou.
Apoio a Eduardo Bolsonaro
Hossri já declarou publicamente seu apoio incondicional ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), que se mudou para os Estados Unidos e pediu licença de 122 dias do mandato a partir de 20 de março, para tratar de “interesses particulares”. Embora o regimento da Câmara determine que esse tipo de licença não é remunerada, Eduardo recebeu R$ 46,3 mil em março e, mesmo fora do país, voltou a receber R$ 17 mil em julho, segundo o portal da transparência.
A licença expirou em 20 de julho de 2025, e desde então o deputado não reassumiu o cargo nem apresentou novo pedido de afastamento, permanecendo há mais de três meses nos EUA sem exercer o mandato, ou seja, sem trabalhar. Recebeu recursos públicos durante parte desse período, embora sem exercer o mandato. O caso gerou questionamentos sobre improbidade e uso indevido de verba pública, mas a Câmara dos Deputados não anunciou punição ou investigação administrativa até o momento.
Ele continua deputado federal, sem renúncia formal, e sob investigação no STF pelos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigações e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.